Psoríase, um mal comum com controlo

“Não existe razão para sofrer com a psoríase”

A psoríase é uma doença inflamatória crónica da pele que afeta um número elevado de pessoas. Em Portugal, 2,6% da população sofre desta doença. Por outras palavras, cerca de 3 em cada 100 portugueses têm psoríase. Ou ainda, por cada 100 bebés que nascem, 3 vão ter psoríase ao longo da vida.

Na maioria dos doentes a pele é o único órgão atingido. Nas formas mais comuns nota-se o aparecimento de placas vermelhas cobertas por escamas brancas e brilhantes que atingem quase sempre os cotovelos, joelhos, couro cabeludo e umbigo. Outras zonas podem ser afetadas. As unhas podem sofrer deformidades muito significativas e incomodativas. Num terço dos doentes há atingimento de articulações e, em circunstâncias mais graves, a psoríase pode afetar a saúde geral aumentando o risco de doenças cardio-vasculares, diabetes, obesidade, doenças pulmonares, linfomas e síndrome depressivo.

No que toca à qualidade de vida esta doença tem impacto significativo, alterando a vida de relação e auto-imagem, de modo mais ou menos relevante em função das áreas atingidas, da exposição destas ao olhar dos outros, da gravidade e, fundamentalmente, da capacidade de adaptação individual.

Embora o risco de contágio seja nulo, a falta de conhecimento de quem vê um doente com psoríase pode gerar comportamentos de repulsa altamente penosos para o doente.

A psoríase não tem causa completamente conhecida. Sabe-se que há alterações genéticas, mas estas têm que interagir com o ambiente para que a doença se possa expressar.

Para quem sofre da doença há fatores de agravamento bem conhecidos, como a toma de certos medicamentos, a existência de infeções como a amigdalite, o consumo exagerado de álcool ou tabaco. A tensão emocional é outra causa de agravamento da psoríase bem conhecida por todos os doentes. Como fator de melhoria temos a exposição solar que é responsável pela melhoria da psoríase durante o Verão.

Ao longo da última década surgiram novidades importantes no tratamento da psoríase.

Na base de qualquer tratamento está a hidratação e a exposição solar. Para as formas menos graves, mas mais comuns da doença (menos de 10% da área corporal afetada), o uso de medicamentos de aplicação local (corticosteroides, análogos da vitamina D, ácido salicílico, entre outros), além da simples hidratação, mantém-se como o tratamento usual. Não proporcionam cura mas podem oferecer melhoria significativa, sem riscos colaterais.

Para formas mais graves de psoríase está indicado a fototerapia com radiação UVA ou UVB e/ou tratamento por via oral como a acitretina, ciclosporina e metotrexato. A fototerapia em equipamentos hospitalares tem bons resultados sem efeitos secundários significativos. Já os outros medicamentos estão associados ao risco de efeitos secundários devendo a sua utilização ser personalizada. Vários destes tratamentos locais e orais estão abrangidos por portaria que determina redução significativa do seu preço de venda.

Mais recentemente foram disponibilizados tratamentos que atuam seletivamente nos processos moleculares envolvidos na formação das placas de psoríase. São, comumente, denominados por “tratamentos biológicos” e estão indicados em formas graves de psoríase que não melhoraram com os tratamentos anteriores, ou nos doentes que não os podem fazer por contra-indicação ou complicações. Têm administração por injeção subcutânea dada pelo próprio doente com uma regularidade que depende do tipo de tratamento biológico. São distribuídos nas farmácias hospitalares e comparticipados a 100% pelo Sistema Nacional de Saúde. A sua eficácia é assinalável. No entanto, estão associados a ligeiro aumento do risco infecções, entre outros efeitos adversos, pelo que a sua utilização deve ser bem ponderado e obedecer a protocolo rigoroso.

Com esta variedade de tratamentos, a maioria dos casos de psoríase podem ser controlados, mesmo os mais graves. Não existe razão para sofrer com a psoríase. Nos próximos anos assistiremos, ainda, ao aparecimento de tratamentos assentes no conhecimento cada vez mais íntimo da doença e, no limite, poderemos curar a psoríase com tratamento dirigido ao seu mecanismo causal.

 

Professor Doutor João Maia Silva
Professor de Dermatologia na Faculdade de Medicina de Lisboa
Coordenador do Centro de Dermatologia, Hospital CUF Descobertas, Lisboa