Dermatite Atópica

As consequências visíveis e não visíveis de uma doença muito frequente e tão pouco conhecida

Por vezes referida como eczema, a Dermatite atópica (DA), é uma doença caracterizada por prurido intenso e vermelhidão da pele. A DA é uma doença crónica, mais frequente na infância, na maioria dos casos auto-limitada até à adolescência, mas que pode prolongar-se para a idade adulta. A DA pode ir muito além do prurido, da vermelhidão, da descamação, das escoriações, das fissuras e crostas. Esta é também uma doença com efeitos invisíveis nas pessoas que vivem todos os dias com a DA, efeitos esses como a perturbação do sono, depressão, frustração e ansiedade.

Dados europeus indicam que existem cerca de 440.000 pessoas em Portugal com DA, das quais 46% apresentam formas moderadas a graves da doença.

Manifestações clínicas

O diagnóstico da Dermatite Atópica é essencialmente clínico. Em média, o tempo entre os primeiros sintomas e a confirmação do diagnóstico é de dois anos. Para melhorar, será importante promover a tomada de consciência para a doença nos diferentes profissionais de saúde e agilizar a referenciação dos doentes para a Consulta de Dermatologia.

A DA pode ter diferentes manifestação clínicas. A pele seca e a comichão, que pode ser intensa, especialmente à noite, estão presentes em 90% dos doentes. Também podem surgir manchas vermelhas a cinza-acastanhadas, especialmente nas mãos, pés, tornozelos, punhos, pescoço, parte superior do tórax, pálpebras, nas dobras dos cotovelos e joelhos e, nos bebés, rosto e couro cabeludo. Saliências pequenas e elevadas, que podem vazar fluido e formar crostas quando arranhadas são frequentes e resultam da inflamação e do traumatismo da coceira.

Causas e Consequências

A DA é uma doença multifatorial complexa, cujos mecanismos de doença ainda estão por esclarecer. A DA tem na sua origem fatores genéticos, a hipereatividade do sistema imunitário e a deficiência da função de barreira da pele. A importância relativa de cada um destes fatores vai determinar diferentes aspetos e gravidade das lesões.

Viver com DA pode significar viver com comichão e irritação constantes. A pele inflamada com manchas vermelhas, descamativas e ásperas são muitas vezes uma constante visível na doença.

A DA está associada a outras doenças, entre as quais, a rinite alérgica, asma, conjuntivite alérgica, alergias alimentares, polipose nasal e complicações cardiovasculares, que afetam a saúde e qualidade de vida da pessoa.

A par das manifestações físicas descritas, salienta-se o forte impacto da DA na qualidade de vida dos doentes e na sociedade. Alguns dos efeitos associados a esta doença, como a privação de sono, ansiedade e défice de atenção, originados pelo constante prurido, conduzem em média a um défice de 25% da produtividade, com impacto no desempenho escolar e profissional. Segundo um estudo português desenvolvido pela NOVA IMS/Sociedade Portuguesa de Dermatologia, em colaboração com a Associação Portuguesa de Doentes com Dermatite Atópica, aproximadamente metade dos doentes que sofrem desta doença, têm dificuldade em dormir 3 ou mais noites por mês. O mesmo estudo mostrou que cerca de 16% dos doentes referem uma redução do seu estado de saúde superior a 50%.

A DA é ainda sinónimo de um grande esforço financeiro para os doentes, famílias, sistema de saúde e sociedade. À medida que a gravidade da doença evolui de forma negativa, os custos aumentam. O estudo realizado pela NOVA IMS/Sociedade Portuguesa de Dermatologia mostrou que, em média, cada doente com DA grave gasta cerca de 1800 euros por ano devido à sua doença.

Tipos de Tratamento

A DA é um paradigma de doença em que os cuidados gerais com a pele determinam a redução da frequência e intensidade das crises. Uma boa hidratação, com cremes hidratantes adequados, associados aos cuidados no banho melhoram significativamente a condição da pele destes doentes. O objectivo será manter a integridade da camada lipídica da pele. Por outras palavras, durante o banho não devemos retirar gordura à pele com banhos prolongados, água muito quente e produtos com sabão. E após o banho devemos repor a pelicula de gordura da pele com a aplicação de hidratantes. É esta película que manterá a pele hidratada e prevenirá a entrada de alergénios na pele. Apenas cerca de 50% dos doentes de DA aplicam cremes hidratantes diariamente. É manifestamente pouco atendendo à importância deste cuidado que, ao contrário de alguns tratamentos, não tem efeitos secundários significativos.

Os tratamentos utilizados para esta doença devem ser mantidos no tempo e ajustados à gravidade da doença. Variam entre a promoção da barreira cutânea com hidratantes e a utilização de produtos de higiene sem sabão, a aplicação de cremes com corticosteroides ou outros imunomoduladores, até às terapêuticas orais com imunossupressores. Recentemente surgiram tratamentos biológicos inovadores que pela sua eficácia e segurança vieram modificar a evolução da DA.

A mensagem final é de esperança… Apesar de ainda existir um longo caminho a percorrer na descoberta das verdadeiras causas desta doença, importa sublinhar que a ciência evoluiu ao ponto de definirem as vias moleculares implicadas e encontrarem tratamentos biológicos seletivos, seguros e eficazes. O alívio das manifestações cutânea da Dermatite Atópica, assim como a melhor qualidade de vida dos doentes, continuará a ser a grande prioridade estando a tornar-se cada vez mais próximo.

 

Professor Doutor João Maia Silva
Professor de Dermatovenereologia da Faculdade de Medicina da Lisboa
Coordenador do Centro de Dermatologia do Hospital CUF Descobertas
Membro da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia